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Portuguese(Português) Available

Por Favor, Cuide da Mamãe

Por Favor, Cuide da Mamãe
Author
Kyung-Sook Shin
Co-Author
-
Translator
FLAVIA ROSSLER
Publisher
Intrinseca
Published Year
2012
Country
BRAZIL
Classification

KDC구분 > literature > Korean Literature > Korean Fiction > 20th century

Original Title
엄마를 부탁해
Original Language

Korean(한국어)

Romanization of Original
Eommareul butakae
ISBN
9788580571325
Page
236
Volume
-
Shin Kyung-sook
  • Kyung-Sook Shin
  • Birth : 1963 ~ -
  • Occupation : Novelist
  • First Name : Kyung-sook
  • Family Name : Shin
  • Korean Name : 신경숙
  • ISNI : 000000008374681X
  • Works : 137
No. Call No. Location Status Due Date Reservation
1 포르투 813 신경숙 엄-Ros LTI Korea Library Available - -
Descriptions
  • Portuguese(Português)

Por favor, cuide da Mamãe narra a história de Park So-nyo, moradora de uma aldeia no interior da Coreia do Sul e mãe de cinco filhos já crescidos que desaparece ao chegar a Seul para visitá-los. Como fez a vida toda, o marido, com quem Park é casada há mais de 50 anos, simplesmente supôs que a esposa o seguia e a deixou para trás numa estação de metrô. Essa é a última vez que Park é vista.

Enquanto a procuram pelas ruas da cidade, o marido e os filhos relembram a vida de Park So-nyo e repassam mentalmente tudo o que não disseram a ela. São essas vozes que revelam os desejos, as dores e os segredos de uma mulher que ninguém nunca conheceu de verdade. E, à medida que o mistério de seu desaparecimento se desenrola, surge um enigma ainda maior, comum a todas as mães e filhos: como o carinho, a exasperação, a esperança e a culpa somam-se para dar origem ao amor.

 

Source: http://www3.vitrola.com.br/produto/36970/LIVRO++KYUNG++SOOK+SHIN++POR+FAVOR+CUIDE+DA+MAMAE++ISBN+9788580571325.html

 

Book Reviews3 See More

  • Portuguese(Português)
    Só somos livres quando nos amamos: uma resenha crítica do livro “Por Favor, cuide da mamãe”
    Escrevo esta resenha após um Dia das Mães ausente. Faz cinco meses que iniciei minha jornada solitária morando em um apartamento na cidade de São Paulo. A pandemia não me deixa ver minha mãe. Enquanto ela está no lado dourado do país, cheio de coqueiros e maresias, e onde a pandemia tem sido mais ou menos controlada, eu estou na cidade que virou um cemitério vivo. São Paulo soa como um cemitério que grita, em brasa. O que me reanima são meus livros enfileirados na estante, que funcionam como minha mesa de santos. São minha segurança. Quando toquei no livro de Kyung-sook Shin, senti que seria difícil. Uma história de uma mãe desaparecida em um ano tão doloroso. Seria uma facada. E na primeira leitura, foi. Porém, na segunda, eu entendi a beleza do livro, consegui me enxergar na filha escritora e entender também o que fez florescer a maior liberdade na qual vivo, a possibilidade de ter saído da minha cidade natal e ido viver meu sonho. Aos leitores que também vivem em uma solidão do novo e em uma descoberta de novas galáxias, espero que ao terminar esse livro possam ver que há uma rede que sustenta nossos corpos suspensos no céu. Uma rede costurada de pessoas que constroem nossa liberdade. A história tocante criada por Kyung-sook Shin, autora do best-seller sul- coreano Por Favor, cuide da mamãe1 começa a firmar suas delicadas garras no coração do leitor com a narração de uma escritora, Chi-hon, que está desesperada à procura de sua mãe, Park So-nyo. A narrativa inicia-se com a escritora e, posteriormente, vamos conhecendo os outros filhos de Park e o seu marido, com um capítulo destinado à perspectiva de cada um. A mãe desaparece no metrô da estação de Seul, ao perder- se do marido. Os familiares da matriarca sumida possuem sua voz em segunda pessoa, ou seja, só se referem a si mesmos com “você̂ ” ou “tu”, à exceção do filho mais velho. O leitor sente na pele como se fosse um familiar egoísta que pouco sabe sobre sua própria mãe. Você̂ não pode negar, você̂ só́ pode se deparar com acusações sobre quem você̂ é. Você̂ não sabe a idade da sua mãe. Você̂ não sabe quando começou a perceber que sua mãe não sabia ler. Também não sabe quando as dores de cabeça dela começaram. Você̂ pouco também reconhece todo o sacrifício da sua mãe para que seus filhos fossem espíritos livres. Para entender a liberdade que Park So-nyo entrega para seus filhos, pode-se pescar uma memória de Chi-hon, a escritora. Em um passado de escassez durante a época de crise pós-guerra coreana2, a menina pede um livrode presente à mãe. O livro era intitulado: “Humano, demasiado humano”3, escrito pelo filósofo cético Friedrich Nietzsche. Esse livro, como bem Nietzsche detalha, é destinado aos espíritos livres: “uma coisa une e distingue todos os meus livros (...): todos eles contêm (...) redes para pássaros incautos” (NIETZSCHE, 2005, p.5) Tal livro presenteado versava sobre a quebra das tradições e advogava que o caminho do conhecimento envolvia uma visão da vida que quebrasse os costumes e as morais pré-estabelecidas. Porém, mesmo esse sendo o único presente da mãe, um livro do mesmo autor de “O Anticristo”, a narrativa surpreendentemente termina com Chi-hon (a presenteada) rezando no país mais católico do mundo, o Vaticano, com um rosário feito de pau rosa. Para começarmos a entender a lógica sequencial de tais cenas contrastantes, apresentadas entre o início e o término da narrativa, devemos notar que a coerência está justificada pelo símbolo do rosário de pau rosa, apresentado na história. Com efeito, após citarmos a relação inicial de contradição entre a oração e o livro, devemos focar no rosário de pau rosa. Esse artefato funciona como uma arma de Tchekhov. Tal artifício literário, criado pelo escritor russo, determina que quando há uma pistola no livro, em um momento terá́ que ser puxado o gatilho, pois tudo que está presente no texto tem um motivo. Na trama, a preparação do gatilho foi pelas mãos da própria Park So-nyo. “Qual é o menor país do mundo? Mamãe pediu que você̂ lhe trouxesse contas de rosário rosa se alguma vez fosse a esse país.” (p.38). A mãe justificou: “Porque você pode ir a qualquer lugar” (p.39). A mãe gostaria de receber o rosário como um presente, um símbolo da emancipação da filha. O conhecimento e o progresso da filha possibilitaram essa liberdade. Portanto, Chi-hon poderia ir a qualquer país, graças a essa possiblidade. De fato, essa questão da emancipação pelo conhecimento que o livro revela possui raízes na história de soerguimento econômico da Coreia do Sul pelo investimento em educação.4 Além do conhecimento, esse livro também falará da importância do afeto e das conexões humanas que possibilitam as condições para o progresso real de um país. Devemos citar um trecho da entrevista da autora para entendermos melhor sua mensagem. Kyung-sook Shin, uma autora que nasceu perto de uma aldeia em Jeongup, na península sul-coreana, em 1963, possui diversos livros premiados e atualmente trabalha como professora convidada da Universidade Columbia, Estados Unidos. A autora, ao ser questionada em uma entrevista5 para a Korea Society, sobre o porquê do livro “Por Favor, cuide da mamãe” tornar-se premiado (ganhador do prêmio Man Asian Literature) e sucesso em vendas no mundo todo, acertadamente, indica: De fato, como a autora aponta, a sensação de perda de compaixão familiar é um fator global, em que cada vez mais, no capitalismo, somos levados a um ritmo de produção e trabalho que nos afasta das relações de carinho e proximidade. A mãe torna-se, portanto, um arquétipo. Um arquétipo da compaixão e solidariedade. No livro, mesmo com os personagens que eram filhos dessa mãe prosperando economicamente, todos sentem em seu interior: “mamãe é a pessoa que você tem vontade de chamar toda vez que você se desespera com alguma coisa nessa cidade” (p.17). Como bem visto no texto de Shin, esse chamado desesperado para o arquétipo do cuidado e da solidariedade está permeado de sentido por meio do ato da leitura. De fato, a emancipação por meio do estudo e do conhecimento só foi possível graças ao esforço da mãe. Quem materialmente levou esses espíritos a serem livres foram os gritos e sacrifícios de Park So-nyo: “Do que adianta ter uma casa se você não pode sequer mandar seus filhos à escola? Eu devia quebrar tudo!” (p.34). Essa fala foi feita para exigir que a filha escritora conseguisse ir para a escola e também que aprendesse a ler. Se não houvesse leitura nem escola, não existiria escrita. Ademais, não foi somente para essa filha que a mãe lutou para que houvesse os louros do conhecimento. Apesar de ser analfabeta, a mãe lutou para que todos os membros da sua família estudassem. O sonho para seu filho, Hyong-chol, era que fosse promotor público e quando ele desistiu de tal objetivo e conseguiu um cargo em uma empresa, ela perguntou: “ O que aconteceu com o que você pretendia ser?” (p.77). Também havia uma filha, Yun, que tinha se estabelecido como dona de casa, com três crianças. A mãe fez questão de levá- la para o jardim primário determinada a aprender a escrever o próprio nome junto com a filha. Antes, com seus outros filhos, nunca havia conseguido acompanhá- los à escola. Em relação a essa filha, quando ela cresce e se estabelece como dona de casa, a mãe questiona: “como você consegue viver assim?” (p.150). O filho, por sua vez, reflete: “Mamãe, quando mais jovem, era uma presença que o incentivava a continuar construindo sua determinação como homem, como ser humano” (p.77). No capítulo escrito pela perspectiva do marido de Park So-nyo, também descobrimos que a esposa cuidava também de sua comunidade e doava dinheiro para um orfanato. E inclusive prometia para um menino chamado Kyun, comprar uma pasta para livros e uniformes quando esse fosse para o ensino médio (p.100). Se a questão do investimento na educação já aparece claramente, ainda nos deparamos com um dos fatos mais melancólicos do livro. O suicídio do cunhado de Park So-nyo, também (coincidentemente) nomeado de Kyun que se suicidou após uma vida assustadora na cidade grande na qual nunca conseguiu realizar seu sonho, o de estudar no ensino médio. Quem incentivou e lutou para que ele se formasse foi a própria Park So-nyo, que insistiu que, para levá-lo para escola, vendessem o jardim (p.127). E por fim, também descobrimos que a mãe estava aprendendo a ler e o livro que fazia questão de ler era o livro escrito por sua filha. De forma emocionante, a contradição entre os espíritos livres nietzschianos e o teor cristão do final da trama perde toda sua oposição: somente com o afeto, os espíritos se libertam. A leitura e o aprendizado no livro todo foram regidos pelo afeto. A arma de Tchekov do livro, o rosário de pau rosa, que recebe inclusive o título de epílogo (p.179), fecha todas as pontas soltas. O livro termina em oração com a peça dramática. Em uma entrevista6 sobre seu livro novo, “Sociedade paliativa: a dor hoje”, o filósofo de origem sul-coreana, Byung-Chul Han, brilhantemente alerta: “Eu acredito que os seres humanos alcançam o auge da beleza quando oram. É por isso que gosto de ir às igrejas. Sem dor, não conseguirão orar”. De fato, em tal livro, o autor argumenta que as dores não serão curadas somente com hospitais. Essa sociedade somente busca métodos paliativos, quando a verdadeira cura está na solidariedade e no carinho. Não se podem enganar os sentimentos. Permitir-se sentir a dor e pedir ajuda, isso é o que realmente cura. O mesmo autor, em seu livro “A agonia de Eros”7, argumenta que o amor se perde na individualidade. Em uma sociedade narcisista que não aceita o diferente, o Outro começa a sumir e não podemos viver a relação em si. Segundo o filósofo, o sujeito narcisista “não consegue estabelecer claramente seus limites (...) o mundo se lhe afigura como sombreamentos projetados de si mesmo. Ele não consegue perceber o outro em sua alteridade e reconhecer essa alteridade” (HAN, p.6). Essa explicação torna mais clara a escolha de um capítulo para cada membro da família da mãe desaparecida. Cada um possui um fragmento de história da mãe, mas não conseguem delimitar exatamente quem é essa mulher (nem o ano de seu nascimento exatamente o sabem). Nesse ponto, até a mãe começa a se esquecer de si mesma; com uma hemorragia cerebral, aos poucos seu cérebro vai destruindo a sua identidade, mas não consegue pedir ajuda e se recusa a ir para o hospital. Seu maior ponto de apoio, um amor secreto, ela desiste de procurar. Desse modo, não resta nenhum Outro para que a mãe pedisse ajuda. A mãe decide destruir seus próprios pertences e ir sumindo aos poucos, até sua cabeça a destruir. As perguntas que ficam: será́ que ela teria ido ao hospital se os seus filhos tivessem decidido acompanhar seu ritmo? Se andassem um pouco mais devagar? Se a mãe pudesse falar tudo que estivesse na sua cabeça? Essa é a pergunta que o marido se faz. “Você até parava e esperava por ela, mas nunca caminhou ao seu lado, conversando com ela, como ela queria, nem uma vez sequer.” (p.117) De fato, esse livro nos lembra que o desenvolvimento só existe com solidariedade. Só existe com as pessoas que nos incentivam. Dessa forma, entende- se mais profundamente o final do livro, com o epílogo por conta da escritora, orando por sua mãe. Como Nietzsche declamou: “Um bom escritor não tem apenas o seu próprio espírito, mas também o espírito de seus amigos” (NIETZSCHE, 2005, p.76.) E, assim, após terminar de escrever essa resenha, olho com carinho para as memórias. As memórias com aqueles que amo e que me ajudaram a construir meu sonho e minha solidão escolhida. Dessa forma, graças ao livro de Kyung- sook Shin, posso enviar uma mensagem de carinho à minha mãe. Mãe, se meu espírito de escritora existe, é porque o seu espírito também esteve ao meu lado. Mal posso esperar para que possamos viajar juntas.
    2022-09-13 17:51
    by Mariana Vieira Moura